A PARTICIPAÇÃO FEMININA NA BOLSA DE VALORES

Hoje queremos trazer ao leitor uma interessante (e importante) discussão sobre a participação feminina no mercado de renda variável brasileira.

Para fins de nossa análise, nos utilizaremos da tabela oficial abaixo, extraída do site da B3, em 05/11/2020:

Tabela 01:

A análise da planilha acima nos permite algumas constatações:


❶Nos últimos 2 anos houve uma explosão de novos investidores pessoas físicas na bolsa de valores brasileira.

❷ O número de mulheres investidoras mais que dobrou no intervalo de 1 ano.

❸ Apesar de uma contínua redução, a diferença no número de homens e mulheres investidores em renda variável ainda é colossal.


O primeiro fato acima, entre outros fatores que podem ser apontados, possui íntima relação com a brutal queda da rentabilidade dos tradicionais investimentos em renda fixa, que por décadas satisfizeram o investidor nacional.

Diante da SELIC em patamares mínimos, houve um duro golpe na cultura do "rentismo" e da passividade no modo investir. Poupança, CDBs, LCAs e, até mesmo, os famigerados títulos de capitalização, deixaram de ser opções satisfatórias, uma vez que passaram a oferecer rentabilidades irrisórias e, algumas vezes, inferiores à inflação.

Hoje, é essencial ao investidor um comportamento mais ativo na busca de soluções financeiras de investimento, abrindo espaço para a diversificação das carteiras e a assunção de maiores riscos, em troca de maiores e relevantes possibilidades de rentabilidade.

Assim, podemos dizer que estamos diante de um fenômeno real e progressivo de migração para a renda variável. Se este fenômeno, tal qual na maioria dos países desenvolvidos, será duradouro e qual o seu alcance, apenas o tempo e as políticas econômicas do país poderão dizer.

O segundo fato que chama a atenção é a "explosão" de investidoras 👩na bolsa de valores. Desde 2018, o número mais que dobrou a cada ano, resultando em 4X mais investidoras ativas entre 2018/2020.

É verdade que, no mesmo período, o crescimento percentual de investidores do sexo masculino teve comportamento bastante semelhante. Entretanto, é o indiscutível fenômeno de integração das mulheres ao mercado de renda variável que queremos destacar.

O terceiro fato é destacado da seguinte forma: a tabela 01 permite verificar que, apesar de uma contínua redução, a diferença no número de homens e mulheres investidores em renda variável ainda é colossal.

Além disso, a evolução tem sido MUITO lenta. Em quase 2 décadas a redução foi de apenas 8 pontos percentuais...

Veja-se que, tirando a primeira faixa etária (até 15 anos), a enorme discrepância entre homens e mulheres investidores possui comportamento semelhante em todas as idades:

Tabela 02:


A que se deve tal discrepância???

Tal questionamento, certamente, possui explicações e raízes muito complexas e profundas, que passam pela estrutura social, educacional e econômica brasileiras.

Além das naturais diferenças entre os sexos e de inúmeros outros fatores acessórios e de relevo, não se pode fechar os olhos à estrutura patriarcal e machista que permeia nossa sociedade. Essa seria mais uma de suas manifestações práticas?

Não há uma resposta simples e pronta. Merece reflexão, estudo e análise para sua adequada compreensão. Os números são claros, relevadores e incontestes.

O que se pretendia aqui era simplesmente fazer uma constatação e fomentar o debate, lembrando que a resposta a esta questão (e sua resolução) pode contribuir para um enorme desenvolvimento de nosso incipiente mercado de capitais, integrando essa enorme parcela da população, que até o momento vem tendo uma participação muito àquem de sua importância e representatividade.